O programa Piauí de Riquezas visitou a comunidade Mimbó, na zona rural de Amarante, local onde vivem mais de 600 pessoas que conservam no sangue e na sua cultura uma história de mais de 200 anos de luta e resistência contra o escravismo. A comunidade é formada em 96% por pessoas da mesma família, que carregam um sobrenome que traduz sua vontade de permanecer juntos: Paixão.
A dona Idelzuíta Paixão é parte da memória viva do Mimbó. Neta por parte de pai e mãe dos fundadores, ela foi a primeira professora da comunidade, ainda em 1971, e conhece bem a história dos antepassados.
Segundo dona Idelzuíta, a comunidade foi fundada por dois casais de escravos que fugiram juntos do Pernambuco, caminhando até a região. Alí viveram por anos em cavernas, próximo ao riacho Mimbó, para se esconder dos seus perseguidores.
“Quando perceberam que eram perseguidos pelos brancos, decidiram atravessar o riacho do Mimbó”, disse. Entretanto, a localização não os deixou livres dos maus-tratos do cruel sistema escravista.
Estudante Ramon Paixão conserva viva a memória da história do Quilombo Mimbó — Foto: TV Clube
“Do ano q fundaram esse quilombo, fomos maltratados até nos anos 1980. O Mimbo veio ser reconhecido como ‘pessoas’ em 24 de setembro de 1981”, conta a matriarca Idelzuíta Paixão.
O estudante Ramon Paixão, jovem morador do Mimbó, também conhece a importância dessa história, e levou a equipe do Piauí de Riquezas até o alto do mirante da comunidade, a cerca de 800 metros de altura. De lá, ele aponta os locais onde comunidade cresceu e para onde se expandiu, e assim mantém viva a memória dos seus ascendentes.
Pagode do Mimbó, parte da cultura musical da comunidade quilombola do interior do Piauí — Foto: Arquivo pessoal
“Sobre nossas manifestações culturais, temos o Pagode do Mimbó, e fazemos o Espetáculo Quilombo Mimbó”, conta. O espetáculo é uma apresentação de dança cantada que conta a história da comunidade.
Assim a comunidade atravessa a história, crescendo como uma grande família e superando as dificuldades que ainda os atingem, como o preconceito, com força e orgulho. “Ainda existe o preconceito. Mas sei que fui uma batalhadora”, disse dona Idelzuíta.
Espetáculo Quilombo Mimbó conta a história da comunidade através de mistura entre dança e teatro — Foto: Arquivo pessoal