BR 343. Região próxima à cidade de Amarante, Estado do Piauí. Alguns anos atrás. A perícia da Polícia Rodoviária Federal estava confusa. Não havia, por ali, sinal de qualquer objeto, veículo, animal ou coisa do tipo que pudesse ter colidido com o carro. Aliás, para fazer tamanho estrago, tudo o que eles sabiam é que era preciso uma coisa muito grande, maior que um caminhão e que estivesse imóvel em meio a estrada. Não havia nada ali, no entanto, que pudesse fazer tamanho estrago.

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Finalmente a ambulância chegava. O motorista do veículo, graças a Deus estava vivo, mas precisava de cuidados médicos urgentes. Jazia ali ainda desmaiado. A multidão de curiosos das proximidades chegava a atrapalhar o trabalho dos peritos e dos socorristas do SAMU, de modo que os policiais constantemente precisavam ordenar que se retirassem.

Realizado os primeiros socorros, o homem é retirado do interior do carro e colocado em uma maca, afim de transportá-lo para a ambulância que iria levá-lo ao hospital. Nesse momento seus olhos abrem. Ainda meio atordoado e desorientado, um policial lhe pergunta o que aconteceu.

Ele, então, narra o que lembrava:

– Seu moço, eu vinha aqui dirigindo normalmente… Vinha vindo de Teresina e já tava com pressa para chegar em casa, pois já era de noite… queria tar com minha família! Não tinha ninguém na estrada… só eu… De repente, apareceu na minha frente, saindo do mato, uma figura do cão… parecia esqueleto de gente… só que era gigante… Num deu tempo de ver direito, mas eu acho que era isso. Não deu tempo de frear. Eu tentei… mas aí eu não lembro mais de nada não… só que eu acordei e vocês tavam me tirando do carro…

Um policial comenta com o outro:

– Coitado! Tá variando… o caso deve ser grave!

Nesse momento, um senhor já de cinquenta e poucos anos, negro com os cabelos brancos, sai do meio da multidão e diz:

– Tá não seu guarda! Ele tá falando a verdade… Eu tava ali com meu cachorro caçando no meio do mato e quando vi foi a freada do carro de longe e o estrondo da batida… Quando eu saí do meio do mato e olhei pro céu eu vi o bicho… O gambirra!

– Gambirra? – perguntou o policial.

– Sim, o Gambirra… Dizem que é um esqueleto gigante que vive por perto de Amarante e que tem mania de passar em meio à pista provocando acidentes de trânsito… O finado Pedro Antônio Gramoza sempre me falava que já tinha visto o bicho, mas eu mermo nunca tinha visto… E nem acreditava! Até hoje… Como eu tava dizendo pro sinhô, depois do estrondo da batida eu vi aquele bicho grandão passando como quem vinha da pista, caminhando no meio do mato, até desaparecer… foi quando eu corri e cheguei aqui o carro tava desse jeito aí que vocês acharam. Aí passou um caminhoneiro pra quem eu pedi ajuda e ele avisou vocês. O povo foi chegando, depois chegou vocês da polícia e depois a ambulância. Isso é tudo que eu sei…

O policial dá as costas e cochicha baixinho com outro:

– essa cidade parece que só tem é doido!

O homem escuta e não fica calado:

– Doido? O senhor me chamou de doido? Pois venha aqui pra eu lhe mostrar um negócio…

Os policiais seguem o homem. Entram em meio ao mato à beira do acostamento. Seguem uns dois metros. Lá chegando, o homem aponta ao chão e fala aos policiais:

– Agora, seu polícia, me diga aqui quem é que tá doido?

O policial congela. No chão uma enorme pegada impressa de um pé que realmente parecia de um esqueleto gigante. Afinal, haveria tal criatura? Ou seria marmotagem do povo dali? A dúvida no policial persiste até hoje. Mas em Amarante, todos sabem que o Gambirra habita as redondezas da cidade. Já faz um tempo que ninguém o vê… Mas não duvidam que logo, logo, esteja aparecendo na BR para causar mais um acidente!